Ser Mineiro
Diz-se, em Minas Gerais, que ser mineiro é não dar rasteira no vento, não andar no escuro, não pisar no molhado, não laçar boi com embira e não esticar conversa com estranho…
Vamos esticar esta conversa para aproveitar um pouco da sabedoria mineira, exaltada em todos os cantos deste enorme Brasil.
Dizem que o mineiro é velhaco, esperto, desconfiado, mas, na realidade, esses adjetivos são dados pelos que entram em uma negociação com os mineiros querendo apenas ganhar, pois, na verdade, os mineiros também são conhecidos como hospitaleiros, hábeis negociadores e políticos.
Estamos na era das “alianças estratégicas” que, mais que uma parceria, todos os envolvidos devem ganhar e proporcionalmente ao seu envolvimento ou investimento.
Observei, com a curiosidade mineira, a nomeação do ex-governador Geraldo Alckmin para o secretariado do governador José Serra, que vem sendo considerada uma hábil atitude política do atual governador paulista.
Se ele deseja viabilizar sua candidatura em 2010, talvez tenha sido, mas se ele deseja vencer as eleições, certamente não foi, pois perdeu a oportunidade de trazer o governador mineiro para essa ação, demonstrando a união do partido e não competindo com seu partidário.
Esse exemplo, cotidiano, nos mostra a diferença entre parceria e aliança estratégica: enquanto a parceria tem resultado a curto e médio prazos, a aliança estratégica visam aos resultados em longo prazo e, consequentemente, mais sólidos, mais efetivos.
Como na política todo erro tem seu preço, nos negócios esse tipo de equívoco pode significar a perda de uma liderança, de uma marca e de alguns milhares de reais.
A economia mundial passa por um ajuste, com grandes reflexos no exterior e respingos no Brasil, que significam uma oportunidade de revisão das práticas comerciais, dos métodos empregados, das relações trabalhistas, da logística operacional, que necessitarão de novos conceitos de atuação e de remuneração de cada negócio, possivelmente em patamares diferentes daqueles que estamos acostumados (ou mal acostumados).
Teremos que rever nossos atuais conceitos e ser flexíveis para alterá-los, pois o objetivo deve ser de longo prazo, de sobrevivência, de perpetuidade do negócio e não apenas de sobrevivência.
Aproveitando o espírito mineiro que diz “cavalo que vai à frente bebe água limpa”, aproveite e saia na frente, estabelecendo alianças estratégicas, seja com seus fornecedores, com seus funcionários e com seus congêneres, buscando a necessária redução de custos e adequação às novas margens e realidade do mercado.
Afinal, você não precisa ser mineiro para agir com a sabedoria mineira, pois “ser mineiro” não é um estado geográfico, é um “estado de espírito”.
AFONSO LAMOUNIER DE MOURA é mineiro e diretor-executivo do Proe
31 de janeiro de 2009.