A crise pela “crise”
Afonso Lamounier de Moura
É evidente que o mundo econômico está em “crise” e isso não se pode negar.
É uma “crise” fi nanceira, desencadeada a partir do excesso de crédito operado pelas instituições fi nanceiras, com elevados “spreads”(juros + margem de risco)que, no entanto, não conseguiram suprir a inadimplência verifi cada.
Porém, atrás dessa “crise” real, vem a crise de confi ança dos mercados, representados pelos investidores, que retiram suas aplicações das bolsas, aguardando sinais mais favoráveis, mais seguros aos seus investimentos, preferindo ter, em mãos, a moeda norteamericana ou em ouro.
E, tanto uma quanto a outra, não representam investimentos e sim reservas para futuras tempestades de liquidez.
Mas o que isso tem a ver com o nosso dia a dia? Por que os mega investidores, com seus problemas de liquidez, afetam a nossa vida, aqui no Brasil, no nosso negócio, no nosso comércio?
É porque acontece a crise pela “crise”.
Tomemos como exemplo um bem de consumo, que o fabricante deixa de produzir, porque está com medo dos refl exos da “crise” e precisa de fazer um “caixa” mais seguro, dispensando alguns funcionários, reduzindo a sua linha de produção.
O comerciante, por sua vez, também pensa da mesma forma, não compra muitas mercadorias, para fazer seu “caixa”, esperando pelos dias piores.
E o consumidor? Não é diferente! Também vai adiar a compra daquele produto, até que a crise passe.
Observamos que todos os elementos dessa história tem recursos que poderiam fazer a economia continuar andando normalmente mas, todos, preferem esperar para ver o que vai dar.
Aí acontece o agravamento da crise, por causa da “crise”. Crise de falta de confi ança. Crise imaginária, além daquela que realmente existe e que afeta o crédito, muito bem combatida pelos governos mundiais que nunca agiram de forma coordenada e uniforme, em benefício de seus mercados.
E como deverão agir agora? Aplicando recursos para que a economia interna de seus países não pare em função da crise pela “crise”. De que forma? Existem muitos recursos governamentais que são mal aplicados, em áreas que não geram empregos e que não produzem a confi ança que o povo necessita para continuar consumindo e, com isso, movimentando a economia.
O governo Brasileiro está adotando algumas medidas, ainda tímidas, nesse sentido, como autorizando a Caixa Econômica Federal a adquirir ações de empresas construtoras, para que as obras não parem; alterando as regras do depósito compulsório dos bancos; vendendo dólares. Mas precisamos de mais.
O Brasil tem uma economia sólida, com bons fundamentos, mas não justifi ca termos a maior taxa de juros (selic) do mundo, pois essa é uma despesa elevada que o Governo paga. Se a taxa de juros for reduzida, haverá novos recursos para serem injetados na economia e poderemos sofrer menos os efeitos da “crise”, que tem ares de “tsunami”, mas pode se tornar apenas uma “ondinha”, como recentemente afi rmou nosso Presidente.
Precisamos, em épocas de euforia, conter o otimismo. Mas, da mesma forma, em épocas como essa conter o pessimismo. Não podemos subestimar a capacidade de reação da economia americana.
Existem pessoas que, ao enfrentar um problema, sentam e choram. Outras vão à luta e buscam alternativas, aproveitam as oportunidades.
Que tipo de pessoa você é?
8 de outubro – Diário do Alto Tietê