Se eu tivesse 20 anos a menos
Afonso Lamounier de Moura
Dia desses li um texto circulando na Internet sobre um diálogo entre um jovem e um homem “mais experiente”, em que esse jovem exaltava suas habilidades e capacidades no mundo eletrônico, em contraposição ao desconhecimento do homem mais experiente.
Esse texto e uma recente experiência pessoal me inspiraram a escrever sobre o assunto e comecei a pensar: se eu tivesse 20 anos a menos… Provavelmente teria uma aparência mais jovem, os cabelos mais escuros, seria um pouco mais magro, estaria preocupado em saber qual a balada da semana… Certamente ainda não teria conhecido as pessoas que já conheci e com as quais mantive relacionamentos pessoais e profissionais; não teria trabalhado onde trabalhei e adquirido a experiência que adquiri ao longo desses 20 anos a mais. Se eu tivesse 20 anos a menos provavelmente não estaria procurando alguém para ter um relacionamento sólido, para construir uma família, para ter um lar e estivesse “aproveiatando a vida” ou morando em outro país, como alguns amigos de meus filhos.
Se eu tivesse 20 anos a menos… Não estaria preocupado com a saúde do meu corpo e apenas em cultuar o físico e ter alguém “escultural” para desfilar ao meu lado, como um troféu. Não saberia reconhecer um gesto de carinho, de atenção, de cuidado Não seria sensível aos anseios, sonhos e necessidades de outras pessoas mais próximas.
Com 20 anos a mais sei muito bem o que me faz bem, o que me faz sentir com 20 anos a menos, com uma vontade enorme de viver mais 20 anos em um ritmo acelerado, de conquistar cada vez mais, de descobrir tudo ainda não descoberto, de viver tudo o que uma pessoa com 20 anos a menos ainda tem para viver, mas que ainda não sabe que pode viver.
Com 20 anos a mais e um espírito jovem tenho muitas chances de ter sucesso em todos os empreendimentos, de ser vitorioso em todas ações que me dispuser a fazer e, em todos os setores, ser bem sucedido na vida. Com 20 anos a mais tenho uma estabilidade que todos com 20 anos a menos pretendem ter…
Com 20 anos a mais, sei muito bem o que é adquirir experiência, que só pode ser obtida através da prática, da vivência, da experimentação, do errar, às vezes mais de uma vez, do saber ouvir e compreender e saber falar na hora certa, com a pessoa certa.
Com 20 anos a mais aprende-se a ser paciente, o que essa nova geração, denominada de Geração Y, não tem e, por isso, almeja resultados imediatistas.
Esse comportamento advém da forma como obtêm suas informações e têm seus acessos na internet. Isso não é uma crítica, é uma constatação, pois essa disponibilidade de informação e seu caráter instantâneo, levam a esse comportamento. A informação fácil e precisa é um fator positivo, mas seu reflexo no imediatismo das ações pode não ser interessante.
O sentido de “ficar” que leva ao passageiro, descompromissado e sem consequências é uma reação desse tipo de comportamento.
Com 20 anos a mais aprendi a cuidar de mim e de quem está ao meu redor. Sei que amar não é só “ficar”, mas amor é um exercício diário de doação recíproca, desejar, sentir, ter saudade, preocupar-se com o outro, querer fazer da felicidade da outra pessoa a sua própria felicidade e querer estar sempre ao lado do outro especial, que te faz tanto bem. Temos que viver intensamente todas as fases de nossas vidas, não importa se temos 20 a mais ou 20 a menos.
Importa que seja quem realmente você é e faça o que tem vontade de fazer e que isso te faça sentir bem.
No entanto, com 20 anos a mais tenho a certeza de ter contribuído para os que tem 20 anos a menos estejam usufruindo de toda tecnologia avançada e demais benefícios que ela nos traz.
Às vezes me pego pensando: mas, se eu tivesse 20 anos a menos? Não, honestamente, prefiro ter 20 anos a mais.
22 de novembro de 2008 – Diário do alto Tietê